O cérebro humano é um órgão incrivelmente complexo, capaz de processar informações linguísticas de forma dinâmica e adaptativa. Devido a isso é interessante lembrar que o aprendizado de uma nova língua envolve múltiplas áreas cerebrais e redes neurais que trabalham em conjunto para interpretar, armazenar e recuperar informações, pois, ao compreender esse mecanismo podemos aprimorar métodos de ensino e potencializar a aquisição de idiomas. É por isso que reunimos 4 dicas chave baseadas na neurociência para você aplicar ainda hoje nos seus estudos!

Quais as principais áreas do cérebro envolvidas?
Para conseguir otimizar as técnicas de estudos de idiomas é necessário compreender quais partes do cérebro desempenham funções essenciais nesse aprendizado de línguas:
- Córtex Pré-Frontal: Responsável pelo planejamento, tomada de decisões e memória de trabalho, essa região é crucial para gerenciar novas informações linguísticas, integrar regras gramaticais e expandir o vocabulário (Baddeley, 2012).
- Área de Broca: Localizada no lobo frontal, essa área é essencial para a produção da fala e a construção de frases gramaticalmente corretas. Pesquisas indicam que a ativação dessa região é mais intensa durante o aprendizado inicial de uma nova língua (Friederici, 2011).
- Área de Wernicke: Situada no lobo temporal, essa região é fundamental para a compreensão linguística. Estudos de neuroimagem revelam que indivíduos fluentes em mais de uma língua possuem uma maior interconectividade entre a área de Wernicke e outras regiões cognitivas (Abutalebi et al., 2013).
- Hipocampo: Essencial para a memória e o armazenamento de informações, ele ajuda a consolidar novas palavras e regras gramaticais, garantindo sua retenção na memória de longo prazo (Ullman, 2016).
- Gânglios Basais: Envolvidos na aprendizagem implícita, os gânglios basais facilitam a automatização de padrões linguísticos, como pronúncia e conjugações verbais (DeKeyser, 2005).

4 Dicas para Aprender Idiomas Mais Rápido
Exposição diária com imersão ativa
Estudos demonstram que a exposição frequente a um novo idioma estimula a neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de criar novas conexões neurais (Draganski et al., 2006). Mas não basta ouvir passivamente: é preciso engajar-se ativamente com o conteúdo. Ou seja, escutar, repetir, tentar prever palavras e participar de conversas reais ou simuladas.
Como aplicar: assista a séries no idioma-alvo com legenda no mesmo idioma, repita frases em voz alta e use aplicativos de conversação que simulam interações reais.

Utilize o método de repetição espaçada
A memória de longo prazo depende da repetição ao longo do tempo. O sistema de repetição espaçada (Spaced Repetition System — SRS) distribui o conteúdo a ser revisado em intervalos crescentes, reforçando o aprendizado no momento em que o cérebro está prestes a esquecer a informação (Ebbinghaus, 1885; Cepeda et al., 2006).
Como aplicar: use aplicativos como Anki ou Quizlet, que aplicam essa técnica automaticamente para vocabulário, frases e expressões idiomáticas.

Misture os contextos de aprendizado (aprendizado intercalado)
A aprendizagem intercalada (interleaved learning) consiste em alternar diferentes tipos de tarefas ou contextos de uso de um idioma. Segundo pesquisas de Rohrer & Taylor (2007), esse tipo de aprendizado gera melhores resultados a longo prazo do que a prática repetitiva do mesmo conteúdo (aprendizado em bloco).
Como aplicar: em vez de estudar gramática por uma hora inteira, divida seu tempo entre leitura, escrita, audição e fala. Mude também os tópicos — um dia, fale sobre esportes; no outro, sobre viagens, notícias, etc.

Conecte emoção e significado ao aprendizado
A neurociência da emoção mostra que aprendemos melhor quando o conteúdo tem significado pessoal ou emocional (Immordino-Yang & Damasio, 2007). Ao vincular o idioma a objetivos reais, memórias afetivas ou interesses genuínos, o cérebro se engaja mais profundamente no aprendizado.
Como aplicar: escreva um diário no novo idioma sobre seus sentimentos, hobbies ou metas. Escolha temas que despertem emoção ou motivação — isso aumenta a retenção e a fluência.

Estratégias para Potencializar o Aprendizado de Línguas
Uma abordagem eficaz para aprender um novo idioma envolve a utilização de múltiplos estímulos sensoriais. Ao combinar leitura, escrita, escuta e fala, ativam-se diferentes áreas do cérebro de forma integrada, o que favorece a retenção e o processamento da nova linguagem. Segundo Schmidt (1990), esse envolvimento ativo e diversificado promove uma aprendizagem mais profunda, pois estimula tanto a memória declarativa quanto a procedural. Além disso, o sono exerce um papel crucial nesse processo. Durante o sono, especialmente nas fases REM e de sono profundo, ocorre a consolidação das informações recém-adquiridas, transferindo o que foi aprendido da memória de curto prazo para a memória de longo prazo. Estudos como os de Walker e Stickgold (2010) demonstram que uma boa qualidade de sono após o estudo pode melhorar significativamente a fluência e a compreensão de uma nova língua, tornando o descanso uma etapa essencial do aprendizado.

Conclusão
O aprendizado de novas línguas é um processo neurobiológico sofisticado, mas acessível em qualquer idade. A neurociência demonstra que a exposição regular, a prática ativa e a imersão são estratégias eficazes para fortalecer o domínio de um idioma. Além disso, aprender uma nova língua melhora a função cognitiva, estimula a criatividade, abre um leque de oportunidades profissionais e pessoais e pode até retardar o declínio neurológico.
Referências
ABUTALEBI, J. et al. The role of the left putamen in multilingual language production. Brain and Language, v. 125, n. 3, p. 307-315, 2013.
BADDELEY, A. Working memory: theories, models, and controversies. Annual Review of Psychology, v. 63, p. 1-29, 2012.
BIALYSTOK, E. Reshaping the mind: The benefits of bilingualism. Canadian Journal of Experimental Psychology, v. 65, n. 4, p. 229, 2011.
BIRDSONG, D. Age and second language acquisition: A critical look at the critical period hypothesis. Second Language Acquisition and the Critical Period Hypothesis, p. 1-22, 2006.
Cepeda, N. J., Pashler, H., Vul, E., Wixted, J. T., & Rohrer, D. (2006). Distributed practice in verbal recall tasks: A review and quantitative synthesis. Psychological Bulletin.
CEPEDA, N. J. et al. Spacing effects in learning: A temporal ridgeline of optimal retention. Psychological Science, v. 17, n. 11, p. 1095-1102, 2006.
DEKEYSER, R. What makes learning second-language grammar difficult? A review of issues. Language Learning, v. 55, p. 1-25, 2005.
Draganski, B., Gaser, C., Busch, V., Schuierer, G., Bogdahn, U., & May, A. (2006). Neuroplasticity: Changes in grey matter induced by training. Nature.
Ebbinghaus, H. (1885). Über das Gedächtnis. Untersuchungen zur experimentellen Psychologie.
ELLIS, N. C. The dynamic emergence of structure in language: A cognitive perspective. Studies in Second Language Acquisition, v. 30, n. 2, p. 169-178, 2008.
FRIEDERICI, A. D. The brain basis of language processing: From structure to function. Physiological Reviews, v. 91, n. 4, p. 1357-1392, 2011.
Immordino-Yang, M. H., & Damasio, A. (2007). We feel, therefore we learn: The relevance of affective and social neuroscience to education. Mind, Brain, and Education.
KUHL, P. K. Brain mechanisms in early language acquisition. Neuron, v. 67, n. 5, p. 713-727, 2010.
LEOW, R. P. Explicit learning in the L2 classroom: A study on the role of feedback in morphosyntactic acquisition. Studies in Second Language Acquisition, v. 37, n. 1, p. 91-120, 2015.
NATION, I. S. P. Learning Vocabulary in Another Language. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.
ODLIN, T. Language Transfer: Cross-linguistic Influence in Language Learning. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
Rohrer, D., & Taylor, K. (2007). The shuffling of mathematics problems improves learning. Instructional Science.
SPADA, N.; LIGHTBOWN, P. How languages are learned. Oxford: Oxford University Press, 2008.
ULLMAN, M. T. A neurocognitive perspective on language: The declarative/procedural model. Nature Reviews Neuroscience, v. 7, p. 717-727, 2016.