Você já parou para perceber como o simples fato de receber um elogio pode elevar nosso humor instantaneamente, enquanto uma crítica pode nos deixar abalados por horas – ou até dias?
Essa diferença na forma como reagimos está enraizada na maneira como o cérebro processa informações positivas e negativas. Estudos em neurociência demonstram que elogios e críticas ativam diferentes regiões cerebrais e influenciam diretamente nossas emoções, comportamentos e até nossa autoestima. Nesse artigo vamos estudar a fundo como isso ocorre e como podemos aprender a lidar melhor em ambas as situações.

Como os elogios impactam no cerébro
Liberação de Dopamina: O Circuito da Recompensa
Quando recebemos um elogio, o cérebro libera dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à motivação. Essa liberação ocorre principalmente no sistema de recompensa, envolvendo o estriado ventral e o núcleo accumbens (Izuma et al., 2008). A dopamina fortalece a conexão entre o elogio e o comportamento que o gerou, incentivando sua repetição. Por isso é essencial que os pais estejam sempre tratando seus filhos com palavras de afirmação durante a infância , pois colabora para perpetuação de comportamentos positivos.
Ativação do Córtex Pré-frontal Medial
Estudos de neuroimagem mostram que elogios ativam o córtex pré-frontal medial, região associada ao processamento de recompensas e à autoimagem (Baumeister et al., 2001). Isso sugere que receber feedback positivo não apenas nos faz sentir bem, mas também influencia a forma como nos percebemos.
Efeito Motivacional e Aprendizagem
O reconhecimento positivo pode aumentar o engajamento e a produtividade. Um estudo de Deci et al. (1999) demonstrou que feedback positivo melhora o desempenho e a persistência em tarefas, pois reforça a sensação de competência e autoconfiança.

O Impacto das Críticas no Cérebro
Ativação da Amígdala: A Resposta ao Estresse
Diferente dos elogios, as críticas ativam a amígdala, estrutura do sistema límbico responsável por processar emoções negativas e ameaças (LeDoux, 2000). Essa ativação pode desencadear uma resposta de luta ou fuga, gerando ansiedade e reatividade emocional.
Aumento do Cortisol: O Hormônio do Estresse
Críticas negativas podem elevar os níveis de cortisol, prejudicando a regulação emocional e a tomada de decisão. Um estudo de Dickerson e Kemeny (2004) mostrou que a exposição a feedbacks negativos está associada a um aumento significativo do cortisol, reduzindo a capacidade cognitiva e aumentando a sensibilidade ao estresse.
Viés Negativo: Por que Damos Mais Peso às Críticas?
Nosso cérebro tem um viés natural para dar mais peso às críticas do que aos elogios, um fenômeno conhecido como “negativity bias” (Rozin & Royzman, 2001). Isso ocorre porque, do ponto de vista evolutivo, ser capaz de processar ameaças com mais intensidade ajudava na sobrevivência.

Como Lidar Melhor com Críticas e Elogios
Aceite Elogios com Gratidão
Em vez de minimizar ou rejeitar elogios, aceite-os plenamente. Isso fortalece sua autoestima e reforça comportamentos positivos.
Reinterprete Críticas de Forma Construtiva
Em vez de ver uma crítica como um ataque pessoal, tente enxergá-la como uma oportunidade de aprendizado. Pergunte-se: “O que posso melhorar com esse feedback?”. Um estudo de Dweck (2006) sugere que uma “mentalidade de crescimento” ajuda a lidar melhor com feedbacks negativos e utiliza-los como alavanca para melhora constante.
Pratique a Autocompaixão
Não deixe que uma crítica isole sua identidade. Todos cometem erros, e aprender com eles é parte do crescimento. Kristin Neff (2011) mostrou que a autocompaixão reduz o impacto emocional de críticas e melhora o bem-estar psicológico. Lembre-se, você é humano, imperfeito, vai errar as vezes e está tudo bem. O importante é aprender a utilizar isso como oportunidade de crescimento.
Equilibre Feedbacks Positivos e Negativos
Em ambientes profissionais e pessoais, um equilíbrio entre elogios e críticas torna o feedback mais produtivo. O “modelo do sanduíche” – intercalar críticas entre comentários positivos – tem mostrado melhorar a aceitação de feedbacks (Fong et al., 2017), pois uma vez que a pessoa recebe apenas coisas negativas, o cérebro tende a ficar estressado.

Conclusão
Nosso cérebro responde de maneira distinta a elogios e críticas, impactando nossa motivação, autoestima e resposta ao estresse. Compreender essas dinâmicas pode nos ajudar a lidar melhor com feedbacks e aprimorar nosso crescimento pessoal e profissional. Ao equilibrar elogios e críticas e desenvolver uma mentalidade positiva, podemos transformar qualquer feedback em uma oportunidade de evolução e criar uma relação de respeito por nós mesmos e pelos próximos.
Referências
Baumeister, R. F., Bratslavsky, E., Finkenauer, C., & Vohs, K. D. (2001). Bad is stronger than good. Review of General Psychology, 5(4), 323-370.
Deci, E. L., Koestner, R., & Ryan, R. M. (1999). A meta-analytic review of experiments examining the effects of extrinsic rewards on intrinsic motivation. Psychological Bulletin, 125(6), 627.
Dickerson, S. S., & Kemeny, M. E. (2004). Acute stressors and cortisol responses: a theoretical integration and synthesis of laboratory research. Psychological Bulletin, 130(3), 355.
Dweck, C. S. (2006). Mindset: The new psychology of success. Random House.
Izuma, K., Saito, D. N., & Sadato, N. (2008). Processing of social and monetary rewards in the human striatum. Neuron, 58(2), 284-294.
LeDoux, J. (2000). Emotion circuits in the brain. Annual review of neuroscience, 23(1), 155-184.
Neff, K. D. (2011). Self-compassion, self-esteem, and well-being. Social and Personality Psychology Compass, 5(1), 1-12.
Rozin, P., & Royzman, E. B. (2001). Negativity bias, negativity dominance, and contagion. Personality and Social Psychology Review, 5(4), 296-320.