A memória é uma função cognitiva essencial para a vida cotidiana, permitindo que armazenamos e recuperamos informações ao longo do tempo. Entretanto, muitos enfrentam desafios com lapsos de memória, dificuldades de aprendizado e esquecimento frequente. A neurociência tem demonstrado que a memória é um processo dinâmico e passível de aprimoramento por meio de estratégias baseadas em evidências científicas. Este artigo explora o funcionamento cerebral da memória e apresenta métodos eficazes para potencializar sua capacidade de retenção e recordação.

O Funcionamento do Cérebro na Armazenação de Memórias
A memória é um processo neurobiológico complexo que pode ser dividido em quatro fases principais:
1. Atenção
O cérebro recebe as informações via receptores sensoriais, enquanto o seu cérebro filtra e decide se absorve ou não.
2. Codificação
A codificação ocorre quando novas informações são captadas e transformadas em traços neurais. Esse processo envolve a interação entre diferentes regiões cerebrais, especialmente o hipocampo e o córtex pré-frontal, fundamentais para a formação de memórias declarativas (episódicas e semânticas).
3. Armazenamento
O armazenamento da memória ocorre através da consolidação, processo que transforma informações de curto prazo em memórias de longo prazo. Durante o sono, especialmente nas fases NREM e REM, as conexões sinápticas são reforçadas, favorecendo a retenção.
4. Recuperação
A recuperação ocorre quando buscamos acessar uma informação previamente armazenada. Esse processo é mediado por redes neurais interconectadas, e sua eficiência depende da força das conexões sinápticas estabelecidas.

Porque esquecemos?
O esquecimento pode ser causado por diversos fatores, entre eles:
- Falta de atenção: A ausência de foco no momento da aquisição da informação compromete sua consolidação.
- Ausência de reforço: Memórias não revisitadas tendem a se enfraquecer.
- Interferência: Informações semelhantes podem competir entre si, dificultando a recuperação.
- Fatores biológicos: Estresse, privação de sono e deficiências nutricionais impactam negativamente a memória.
As constantes distrações digitais e a multitarefa: impactos negativos sobre a memória funcional
A memória funcional, também conhecida como memória de trabalho, é um componente cognitivo essencial para a realização de tarefas complexas, como raciocínio, tomada de decisão e resolução de problemas. No contexto atual, caracterizado pela hiperconectividade e pelo uso contínuo de dispositivos digitais, pesquisadores têm demonstrado crescente preocupação com os impactos que esse ambiente multitarefa pode causar sobre essa função cognitiva.
Estudos indicam que a realização simultânea de múltiplas tarefas, especialmente quando envolvem a troca constante de atenção entre estímulos digitais – como notificações de redes sociais, e-mails e mensagens instantâneas – pode comprometer significativamente a capacidade da memória funcional (Ophir, Nass e Wagner, 2009). Esses estímulos promovem uma fragmentação da atenção que dificulta o armazenamento temporário e a manipulação de informações, funções centrais da memória funcional.
A pesquisa conduzida por Ophir, Nass e Wagner (2009) com universitários revelou que indivíduos classificados como multitarefas intensivos apresentaram desempenho inferior em testes de controle atencional e memória de trabalho quando comparados com aqueles que praticavam menos multitarefa digital. Isso sugere que a exposição constante a distrações pode reduzir a eficiência do sistema cognitivo responsável por filtrar informações irrelevantes e manter o foco em uma tarefa.
Além disso, Ward, Duke, Gneezy e Bos (2017) demonstraram que a simples presença do smartphone, mesmo desligado ou virado para baixo, é suficiente para reduzir a capacidade cognitiva disponível dos indivíduos. Os autores argumentam que a presença do aparelho compete inconscientemente com recursos mentais, diminuindo o desempenho em tarefas que exigem memória de trabalho e atenção sustentada.
No campo da neurociência, estudos de neuroimagem funcional também mostram que o envolvimento excessivo com mídias digitais pode alterar a ativação de áreas cerebrais associadas à memória funcional, como o córtex pré-frontal dorsolateral (Moisala et al., 2016). A sobrecarga cognitiva gerada pela multitarefa digital parece inibir o engajamento profundo necessário para a consolidação da informação na memória.
Dessa forma, embora o ambiente digital ofereça inúmeras vantagens para a produtividade e a comunicação, é fundamental reconhecer os limites neurocognitivos do cérebro humano. Reduzir distrações, praticar atenção plena e realizar uma tarefa por vez são estratégias recomendadas para preservar a integridade da memória funcional e, consequentemente, melhorar o desempenho cognitivo geral.

Estratégias para Melhorar a Memória
1. Crie Associações Significativas
Relacionar novas informações a conceitos já conhecidos fortalece as redes neurais, facilitando a recordação. Estudos indicam que a memória semântica é mais eficaz quando há conexão com experiências anteriores.
2. Utilize Técnicas Mnemônicas
Estratégias como acrônimos, rimas e visualizações facilitam a organização da informação. O uso de “palácios da memória”, uma técnica milenar, também tem demonstrado eficiência na retenção de grandes quantidades de dados.
3. Adote a Repetição Espaçada
A revisão periódica do conteúdo melhora a retenção a longo prazo. O psicólogo Hermann Ebbinghaus demonstrou que espaçar os momentos de estudo reduz significativamente a taxa de esquecimento.
4. Priorize o Sono
A qualidade do sono é determinante para a consolidação da memória. Pesquisas indicam que indivíduos privados de sono apresentam desempenho reduzido em testes de recordação e aprendizado.
5. Exercite-se Regularmente
A prática de atividades físicas estimula a neurogênese e melhora a função cognitiva. Estudos apontam que exercícios aeróbicos promovem o aumento da expressão do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), essencial para a plasticidade neural.
6. Consuma ômega 3
Estudos da Universidade de Pittsburgh em 2012 indicam que alimentos com Ômega 3 ajudam a potencializar a memória.
7. Fragmentação
Consiste em dividir informações em grupos menores, facilitando a memorização. Por exemplo, ao lembrar números de telefone, agrupá-los em blocos torna a tarefa mais simples.
8. Mnemônicos e Aliterações
Criar acrônimos ou frases com as iniciais das palavras-chave ajuda a recordar listas ou conceitos. A aliteração também facilita a memorização de nomes ou termos.
9. Cantarolar
Transformar informações em melodias ou jingles pode tornar a memorização mais eficaz, especialmente para quem tem facilidade em lembrar letras de músicas.
10.Rimas
Associar informações a rimas facilita a recordação, aproveitando a musicalidade para fixar conteúdos.
11. Técnica da Montagem
Relacionar novas informações a conhecimentos já existentes cria conexões que tornam a memorização mais natural.
12. Repetição Espaçada
Revisar o conteúdo em intervalos regulares permite que o cérebro consolide as informações na memória de longo prazo.
13. Contar Histórias ou Fazer Associações
Criar narrativas que conectem os itens a serem memorizados facilita a lembrança, especialmente se forem vívidas.
14. Fichas de Memorização (Flashcards)
Utilizar cartões com perguntas de um lado e respostas do outro é uma forma eficaz de praticar a recuperação ativa.
15. Mapas Mentais
Organizar visualmente as informações em diagramas facilita a compreensão e memorização de conteúdos complexos.
16. Método dos Loci (Palácio da Memória)
Associar informações a locais familiares, visualizando um percurso mental, facilita a recuperação de dados.

Conclusão
Melhorar a memória é possível por meio da adoção de estratégias baseadas na neurociência. Criar associações, utilizar técnicas mnemônicas, espaçar a repetição, priorizar o sono e manter-se fisicamente ativo são métodos cientificamente comprovados para fortalecer a capacidade de retenção e recordação de informações. Aplicar essas práticas no dia a dia pode potencializar significativamente a função cognitiva e a qualidade de vida.
