Você sabia que o cérebro humano passa por grandes transformações desde a infância até a idade adulta? Mudanças essas que influenciam diretamente nossas capacidades cognitivas, emocionais e comportamentais. Compreender essas diferenças é fundamental para aprimorar práticas educacionais, estratégias de comunicação intergeracional e promover o desenvolvimento pessoal seja em casa ou no ambiente escolar, por isso vamos abordar as principais características no artigo a seguir:

Plasticidade e Potencial de Aprendizado
A Neuroplasticidade cerebral é uma característica chave do ser humano, e é interessante notar que durante a infância, o cérebro exibe uma plasticidade sináptica significativa, permitindo adaptações estruturais e funcionais em resposta a experiências e aprendizados, ao passo em que os adultos apesar de enfrentar desafios ao aprender novas habilidades, especialmente idiomas, possuem a capacidade de processar informações de maneira mais analítica e profunda. Isso se deve à especialização e eficiência dos circuitos neurais maduros (JOHNSON, 2001).

Conexões Neurais
Nos primeiros anos de vida, o cérebro forma uma vasta rede de conexões sinápticas. Esse processo é seguido por uma “poda” sináptica durante a adolescência, onde aproximadamente metade dessas conexões é eliminada, refinando os circuitos neurais e tornando o processamento cerebral mais eficiente (GOGTAY et al., 2004). Com a maturação, o cérebro adulto mantém conexões sinápticas mais fortes e eficientes, resultado da poda neural que ocorre durante a adolescência. Essa otimização permite um processamento de informações mais eficaz, embora possa limitar a flexibilidade para aprender novas habilidades em comparação com a infância (HUTTENLOCHER, 1990).

Sistema Emocional
Uma grande mudança que ocorre ao longo da vida é nosso sistema emocional, em crianças, estruturas como a amígdala, associadas ao processamento emocional, desempenham um papel mais proeminente. O córtex pré-frontal, responsável pelo controle de impulsos e tomada de decisões, ainda está em desenvolvimento, o que pode resultar em respostas emocionais mais intensas e comportamentos impulsivos (CASEY, GALVÁN e HARE, 2005). O desenvolvimento completo do córtex pré-frontal, que se estende até os 25 anos, proporciona aos adultos uma maior capacidade de regulação emocional e tomada de decisões racionais. Essa maturação contribui para comportamentos mais controlados e respostas emocionais equilibradas (STEINBERG, 2008).
Durante uma crise emocional, o sistema límbico – responsável pelas emoções – assume o controle das ações infantis (DAMÁSIO, 2003). A parte racional do cérebro, o córtex pré-frontal, que coordena o autocontrole e o julgamento, ainda está em amadurecimento. Cabe ao adulto oferecer regulação emocional externa, emprestando sua calma para a criança. Manter a tranquilidade nesses momentos é mais educativo do que aplicar punições severas.
Durante uma explosão emocional, a criança está em estado de alerta, com pouca capacidade de raciocínio. Tentar argumentar ou repreender nesse momento é ineficaz. A orientação deve ser feita após a crise, quando o estado emocional estiver estabilizado, permitindo aprendizado e reflexão.
Crianças precisam ser ensinadas sobre como lidar com emoções difíceis. Respiração profunda, contagem regressiva, desenhos ou diálogos podem ser alternativas eficazes. Dizer apenas “pare de gritar” não é suficiente. O adulto deve oferecer modelos de comportamento regulado e alternativas reais de enfrentamento.

Conclusão
As distinções entre os cérebros de crianças e adultos são fundamentais para entender as variações em aprendizado, comportamento e processamento emocional ao longo da vida. Reconhecer essas diferenças pode orientar abordagens educacionais mais eficazes,
Educar emocionalmente é um processo contínuo que exige paciência, escuta ativa e consistência. Cada episódio de reação emocional é uma oportunidade para ensinar à criança sobre si mesma e sobre como viver em sociedade. Quando o adulto compreende a função dessas emoções e atua com empatia, ele não apenas resolve o conflito momentâneo, mas contribui para a formação de um indivíduo mais equilibrado e resiliente.
Referências
CASEY, B. J.; GALVÁN, A.; HARE, T. A. Changes in cerebral functional organization during cognitive development. Current Opinion in Neurobiology, v. 15, n. 2, p. 239-244, 2005.
DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
FERNANDES, T.; MORAES, A. Rotina e comportamento infantil: uma análise da segurança emocional nas primeiras fases do desenvolvimento. Revista Psicopedagógica, v. 37, n. 2, p. 102-110, 2020.
GAOLEK, M. Inteligência emocional desde a infância: como ensinar as crianças a reconhecerem e lidarem com suas emoções. Porto Alegre: Vozes, 2021.
GOGTAY, N. et al. Dynamic mapping of human cortical development during childhood through early adulthood. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 101, n. 21, p. 8174-8179, 2004.
HUTTENLOCHER, P. R. Morphometric study of human cerebral cortex development. Neuropsychologia, v. 28, n. 6, p. 517-527, 1990.
HUTTENLOCHER, P. R. Neural Plasticity: The Effects of Environment on the Development of the Cerebral Cortex. Harvard University Press, 2002.
JOHNSON, M. H. Functional brain development in humans. Nature Reviews Neuroscience, v. 2, n. 7, p. 475-483, 2001.
SIEGEL, D. J.; BRYSON, T. P. O cérebro da criança: 12 estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2016.
STEINBERG, L. A social neuroscience perspective on adolescent risk-taking. Developmental Review, v. 28, n. 1, p. 78-106, 2008.