O amor é frequentemente descrito como um fenômeno emocional, mas a neurociência demonstra que ele é, na verdade, um processo profundamente biológico. A paixão ativa regiões específicas do cérebro e libera uma série de neurotransmissores que influenciam nosso comportamento, nossas emoções e até mesmo nossa capacidade de julgamento.

Os Neurotransmissores do Amor
Pesquisas conduzidas pela neurocientista Helen Fisher (FISHER, 2004) identificaram três sistemas cerebrais distintos que regulam o amor romântico:
- Sistema do desejo sexual: Relacionado à liberação de testosterona e estrogênio, que impulsionam a atração física.
- Sistema do amor romântico: Movido pela dopamina e pela noradrenalina, que aumentam a energia, reduzem a necessidade de sono e alimentação e criam sentimentos de euforia e obsessão.
- Sistema do apego: Regulado pela oxitocina e vasopressina, neurotransmissores que fortalecem o vínculo e promovem a estabilidade emocional.
Estudos de neuroimagem conduzidos por Ortigue et al. (2010) demonstraram que o amor ativa regiões do cérebro ligadas ao sistema de recompensa, como o estriado ventral e a área tegmental ventral, semelhantes àquelas ativadas pelo uso de drogas.

O Amor e a Diminuição do Pensamento Crítico
Outra descoberta intrigante é que a paixão reduz a atividade do córtex pré-frontal, responsável pelo pensamento racional e pelo julgamento crítico (ZEKI; ROMAYA, 2010). Isso explica por que, muitas vezes, apaixonados ignoram os defeitos do parceiro e tomam decisões impulsivas.

Por Que Nos Apaixonamos por Certas Pessoas e Não por Outras?
A atração romântica não é aleatória; ela é influenciada por fatores biológicos e psicológicos. Estudos indicam que componentes genéticos, hormonais e sociais desempenham um papel essencial na escolha de um parceiro.
A Influência dos Feromônios e da Genética
O famoso “Teste da Camiseta Suada”, conduzido por Claus Wedekind et al. (1995), revelou que mulheres preferem o cheiro de homens com um Complexo de Histocompatibilidade Majoritário (MHC) diferente do seu, o que sugere uma seleção inconsciente para maximizar a diversidade imunológica da prole.
A Influência do Estilo de Apego
A Teoria do Apego, desenvolvida por John Bowlby e Mary Ainsworth (AINSWORTH; BOWLBY, 1991), demonstra que nossas primeiras interações com cuidadores moldam a maneira como formamos laços afetivos na vida adulta. Indivíduos com um apego seguro tendem a buscar relacionamentos estáveis, enquanto aqueles com apego ansioso ou evitativo podem se sentir atraídos por dinâmicas emocionais instáveis.

Como Manter a Paixão Acesa Segundo a Neurociência
A paixão inicial tende a diminuir ao longo do tempo, mas estudos mostram que é possível reativar os circuitos cerebrais do amor por meio de estratégias cientificamente comprovadas.
Novidade e Emoção
Arthur Aron et al. (2000) descobriram que casais que realizam atividades novas e desafiadoras juntos experimentam um aumento nos níveis de dopamina e relatam maior satisfação no relacionamento.
Toque Físico e Oxitocina
A pesquisa de Kerstin Uvnäs-Moberg (1998) demonstrou que o contato físico frequente aumenta os níveis de oxitocina, fortalecendo o vínculo e reduzindo os níveis de estresse.
Pequenos Gestos e Surpresas
Schultz et al. (1997) mostraram que recompensas inesperadas aumentam a liberação de dopamina no cérebro. Pequenas surpresas e demonstrações de carinho ajudam a manter a conexão emocional.
Referências
AINSWORTH, M. D. S.; BOWLBY, J. An Ethological Approach to Personality Development. American Psychologist, v. 46, n. 4, p. 333-341, 1991.
ARON, A. et al. Couples’ shared participation in novel and arousing activities and experienced relationship quality. Journal of Personality and Social Psychology, v. 78, n. 2, p. 273-284, 2000.
FISHER, H. Why we love: The nature and chemistry of romantic love. Henry Holt and Company, 2004.
ORTIGUE, S. et al. The neural basis of love as a subliminal reward process. NeuroReport, v. 21, n. 7, p. 420-425, 2010.
SCHULTZ, W.; DAYAN, P.; MONTOQUE, P. A Neural Substrate of Prediction and Reward. Science, v. 275, n. 5306, p. 1593-1599, 1997.
Uvnäs-Moberg, K. Oxytocin linked antistress effects: the relaxation and growth response. Acta Physiologica Scandinavica Supplementum, v. 640, p. 38-42, 1998.
WEDekind, C. et al. MHC-dependent mate preferences in humans. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, v. 260, n. 1359, p. 245-249, 1995.
ZEKI, S.; ROMAYA, J. P. The neural correlates of hate. PLoS One, v. 5, n. 10, p. e12552, 2010.